Apesar de…

Vivenciar o processo de luto não é simplesmente seguir em frente, ser forte e compreender que você continua vivo.

Vivenciar o luto é entender que muitos esforços serão necessários apesar de…
Apesar da ausência do ente querido, cada dia é um novo começo. Reaprender a viver envolve reconhecer que a dor da perda não desaparece, mas se transforma. É um processo contínuo de adaptação às novas circunstâncias, onde a saudade se mescla com as lembranças, e a dor abre espaço para momentos de paz.

Apesar de, o ente querido não estar mais aqui, será necessário acordar todos os dias. Apesar de, o ente querido não estar mais aqui, será necessário dar conta das “obrigações” que a vida nos apresenta.
Apesar da ausência física, será necessário encontrar maneiras de preencher o vazio que ficou, que parecia tão pequeno e que com o passar do tempo vai se tornando um abismo.
Será necessário lembrar e relembrar em vários momentos da necessidade de reaprender.

A vida nunca mais será a mesma, mas é possível encontrar novos significados. Pequenas coisas, como um passeio no parque ou um encontro com amigos, ganham uma nova perspectiva. Cada gesto, cada passo, é um aprendizado de como viver sem seu ente querido.

Diariamente a readaptação fará parte da sua vida.
A rotina precisará ser ajustada, as tradições e os rituais que antes faziam sentido podem ser dolorosos agora. Talvez seja necessário criar novos hábitos, novas formas de celebrar e lembrar.
Readaptar-se é uma prova de resiliência, de que a vida continua, mesmo que de uma forma diferente e apesar da ausência e com o vazio que agora se instalou.

Constantemente reorganizar ocupará momentos do seu cotidiano.
As prioridades mudam, o que antes parecia essencial pode perder o sentido, enquanto novas paixões e interesses podem surgir. Reorganizar a vida implica em dar espaço para o novo, sem esquecer do que foi importante. É uma forma de honrar o passado enquanto se constrói o futuro. É permitir-se escolher e (re) escolher a cada instante, é permitir-se dizer sim e daqui a pouco dizer não, é dar-se a autorização de mudar de ideia sem precisar de uma justificativa para o outro.

Será necessário reconstruir.
Ter coragem para reconstruir a vida após a perda é um ato de muita coragem. É pegar os pedaços do que restou e criar algo novo, algo que inclua as memórias, mas também permita novas experiências. Reconstruir não é esquecer, mas sim integrar a perda de uma forma que permita seguir em frente apesar da dor e da falta.

Apesar de… Apesar da dor, da saudade, da ausência. Apesar dos dias difíceis e das noites longas. Apesar do vazio que parece imenso.
É possível reencontrar força e resiliência.
O luto nos ensina que a vida é preciosa, que cada momento importa. E, mesmo na ausência, há presença. Elas se concretizam nas lembranças, nos ensinamentos, no amor que nunca se apaga.

Seguir em frente durante o luto é um ato de amor, por si mesmo e pelo ente querido. É uma jornada que requer tempo, paciência e, acima de tudo, compaixão. É sobre entender que a vida continua e que, apesar de tudo, há beleza a ser encontrada, há momentos a serem vividos, há sorrisos a serem compartilhados.

Jordana Preti da Silva
Psicóloga Clínica | CRP 08/09999