O Tema da Morte

 

Se despedir é difícil. Dar adeus a uma pessoa que amamos é um dos maiores desafios que alguém pode enfrentar em toda sua vida. Muitos enlutados relatam que a dor é única e indescritivelmente grande.
Mas e se isso pudesse ser diferente? Seria possível que o sofrimento não parecesse tão insuportável?

Ao que tudo indica sim, pois apesar do fenômeno do luto ser uma expressão natural e universal de nossa constituição psíquica, a história nos mostra que outras culturas (atuais e antigas) lidam com a morte de maneiras distintas da nossa, que por sua vez nem sempre foi assim.  Sobre a relação do ser humano com a própria morte, em um nível mental básico ignoramos a finitude da existência de maneira natural – desconhecemos a ideia de morte dentro de nós mesmos.

Ocorre que a natureza humana não permanece em seu  estado natural por muito tempo; ao nascermos somos imediatamente inseridos em uma cultura e em seus diversos símbolos e modalidades de treinamento para as muitas competências que a vida exige. Ora, se ensinamos (e aprendemos) a caminhar, se alimentar, se vestir, se comunicar e trabalhar, por que não haveríamos de aprender também a navegar mais e melhor no tema da morte?  Se por um lado é evidente que tornar o assunto da morte algo a ser ensinado não garante menos sofrimento ao lidar com as perdas, também é fato que esconder isso a todo custo não ajudará.

E por que isso importa? Pois ao contrário do caminho que idealmente deveríamos seguir, ao olhar ao redor reparamos que esse tema está cada vez mais fora de moda.

Mais que isso, o mundo parece insistir em nos fazer esquecer que somos finitos. Observamos nuances disso no já conhecido comportamento de somente postar coisas positivas nas redes sociais, na infinidade de distrações dos meios digitais que diminuem ainda mais o espaço e o tempo para outros assuntos e na grande obsessão da ciência tecnológica em encontrar meios de nos tornar imortais a todo custo. Sem contar os ditames da moda em colocar o destaque da beleza do novo em detrimento do velho.

São inúmeros elementos simbólicos que estariam, já a algum tempo, dificultando a nossa relação com a morte e a aceitação dela como complemento natural da vida. É evidente que essas transformações são um pouco invisíveis aos nossos olhos e não nos afetam diretamente, tampouco somos capazes de alterá-las. Mas talvez seja possível realizar essa reflexão a nível individual e familiar, para nós e em benefício dos que estão ao nosso redor.

A proposta é simples: a fim de que não nos tornemos pessoas permanentemente assustadas com a realidade da finitude, deveríamos poder falar sobre a morte com a naturalidade que a justifica e, com o tempo, permitir compreender e aceitar melhor o destino que a todos aguarda, sem surpresas.

Afinal, saber viver também é saber perder.

 

Lucas Grabarski
Psicólogo – CRP 08/26331