Que parte de mim se perdeu?

Somos indivíduos complexos e feitos a partir de muitos aspectos que nos diferenciam; idade, cor da pele, altura, fisionomia e tom de voz são algumas delas.

Há também qualidades subjetivas e traços de personalidade, em torno delas construímos boa parte de nosso senso de valor e nos tornamos verdadeiramente únicos.

Essas são características que não nascem conosco, precisamos construí-las e aprimorá-las ao longo da vida. O destaque maior deste conjunto é que elas precisam, necessariamente, das outras pessoas.

Não conseguimos decidir sozinhos sobre algumas coisas em nós: posso até me achar uma pessoa engraçada mas não funciona se ninguém concordar.
Em outro exemplo: me reconheço como alguém gentil pois minha amiga sempre me apontou isso. Ou seja, possuímos combinações únicas de traços, quer sejam qualidades e defeitos e conseguimos identificar e até mesmo desenvolvê-los com a ajuda dos outros, principalmente dos mais próximos e de quem mais amamos.

É nesse ponto que reside uma dificuldade singular para quem passa por um luto.

Por vezes sentimos que algo nosso morreu com a pessoa que partiu, esse é inclusive um dos sofrimentos mais comuns na experiência de perder.

Ora, se é verdade que as nossas pessoas nos ajudam a construir nosso senso de valor, também deverá ser verdade que honrá-las em nossa vida dependa de esforço para conservar aquelas qualidades que melhor nos definem e que carregam a marca do olhar de quem se foi.

Esse processo de compreensão e organização pode ser difícil e um pouco demorado mas não podemos e não deixaremos de ser belos(as), amorosos(as) e dedicados(as) depois de ter perdido quem nos apontava esses traços.

Faz parte do processo de luto compreender que, apesar de ser um período de grandes transformações, qualidades nossas que estavam presentes no vínculo perdido podem permanecer conosco, ainda que temporariamente abaladas.

Qual sua melhor parte que você luta para conservar em seu luto?

 

Lucas Grabarski
Psicólogo – CRP 08/26331